"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados. - E eu não sei? Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados." Afonso Romano de Sant'Anna

"... acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante." Cecília Meireles

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domingo, 18 de dezembro de 2011

TESTAMENTO DE DEUS

Antes de Deus se lançar do ápice das nuvens, minutou uma ultima carta aos fundamentais filhos: OS ARTISTAS.
Poeta: Minha filial primogênita. Instituí-te antes de criar a alienação dos homens, te fiz ameaçador e doloroso, te arrisquei na vida antes de eu mesmo conhecê-la. Traja o fardo do louco porem todos que testemunham algo pela primeira vez ganham de mim a frente de sentirem-se insanos. Você me apóia a divulgar os primeiros caminhos da minha inconseqüência; confio mais na sua aflição que no meu domínio. Sei que és são, volátil e descuidado, me orgulho da sua imutável perda de si e de mim, mas nunca esqueça do meu caçula ATOR ; apesar de sempre púbere, é ele quem estará a exalar nossa palavra. Poeta, deixo-te o vão da minha ausência, uma faca afiada de palavras, e um matagal de coisas a serem desvendas só por ti.
Pintor – Meu eterno infante. Continue confinado no imaculado branco, arrebate sempre a virgindade do invisível com a intenção de manchar o nada. Pinte e burle como se enfeitasse o seu próprio caixão, essa é a maneira mais honesta de decorar a nossa casa. Só fiz o fogo, a terra, o ar e a água para que, meu filho, tivesse uma palheta de cores infinita na pintura da mais complexa das telas: a imaginação. Você é o filho mais cúmplice do claro e do escuro. Deixo-te tudo entre o céu e a terra que borra, risca, mancha, suja... para que você contorne algo parecido com o sentir a minha integridade (hoje tão brega).
Musica – Filha, em primeiro lugar, calma! Você é a única que não precisa berrar para ser ouvida. Dei-te de lambuja as notas para que nunca careça argumentar sem procissão. Nunca fique serena, nem discorra tanto, apenas siga a métrica do notar o ruído do viver. Está bem alimenta pela seiva da melodia: existem mais mistérios entre harpa,a voz, e o tamborim do que pode supor nossa vã filosofia. Na aurora, antes de içar da cama, lembre sempre que o ouvido alheio é uma fresta, passagem secreta que deixo aberta para você incomodar os adaptados a ilusão. Deixo-te a variação do som da chuva, o susto dos pratos quebrados dos trovoes, o reco-reco das ondas, o surdo de gota em gota, o acorde de gole em gole sempre no tom para que faça essa vida superficial sambar.

ATOR – Meu filho mais humilde! Insiste em contar quem são seus irmãos. Ator, meu filho mais perdido:quer ser todos em um só! Nunca te pediria calma!!! Herdou meu DNA mais ambíguo, sabe pouco de tudo, porem pesquisa o muito de cada qual. Teu romantismo é o oposto do câncer: devolve as esperanças para quem achava que estava morto. Teus irmãos te amam tanto, nunca esqueça que eles te empurravam no parque da infância dos gestos. Não faça do teu ego sua própria chacina. Você é o mais charmoso e trabalhador dos filhos. O mapa que os poetas escrevem só você pode chegar ao fim. Não julgue, descubra-se sempre no outro, isso te tornará um pouquinho mais do todo, e te fará um artista mais infinito. Cuidado: você é o único que pode fazer Deus e o diabo com a mesma honestidade, a novela e o teatro sem a mesma fama, a riqueza e a pobreza no mesmo tapa. Cuidado filho aguerrido. Existem no globo tantos falsos profetas, e você que compra por amor o valor do homem, lembre-se sempre que tens a responsabilidade de levar teus iluminados irmãos poetas, músicos, artistas plástico na corcunda...Para ti deixo: A face para tapear a todos menos a sua divinal família, o choro para que desabe quando os outros precisarem e a comedia para aliviar os doídos do dia-dia.
Público – Meus tantos filhos das tantas e melhores putas espalhadas nas esquinas das minhas invenções. Não exagerem no entusiasmo! Basta um beijo apropriado, do homem incorreto, para se ser feliz para o resto da ferida. Você, são os donos da veracidade de um todo, mas não se imêmore de julgar a própria solidão, ela sim é a maior virtude da multidão: No meio do bando abanar o isolamento, o respirar da única hipótese de si. Meu filho público, te fiz toda noite que trepei na simplicidade da minha divindade... brotem os que acordam para o contemplar do sobre-viver. Para vocês deixo: chinelos para doar ao poetas que podem gastar atenção com o chão que tem derretido os pés dessa arte sutil, o youtube para escolher entre o mundo inteiro o link que trás de volta a musica universal, a gozada na cara independente dos musicos de ejaculação- precoce! Aos desenhistas, cineasta, pintores, palhaços (a todos do circo)...fodam –se o público que não tem coragem de se prestar no outro...
Público é público, o nome mesmo diz: de todos... aos alienado sempre uma próxima chance!

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