"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados. - E eu não sei? Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados." Afonso Romano de Sant'Anna

"... acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante." Cecília Meireles

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

HASTA SIEMPRE COMANDANTE


 

HASTA SIEMPRE COMANDANTE
Composição: Carlos Puebla
Intérprete: Nathalie Cardon
Aprendimos a quererte
desde la histórica altura
donde el sol de tu bravura
le puso cerco a la muerte.

Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia
Comandante Che Guevara.
Tu mano gloriosa y fuerte
sobre la historia dispara
cuando todo Santa Clara
se despierta para verte.

Vienes quemando la brisa
con soles de primavera
para plantar la bandera
con la luz de tu sonrisa. 

Tu amor revolucionario
te conduce a nueva empresa
donde esperan la firmeza
de tu brazo libertario. 

Seguiremos adelante
como junto a ti seguimos
y con Fidel te decimos:
!Hasta siempre, Comandante! 


NÃO DEIXE DE ASSISTIR:  http://www.youtube.com/watch?v=86LSuXi5TLU

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O filho que eu quero ter




O FILHO QUE EU QUERO TER

Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer

Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim

Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu

E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus

Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Na sexta-feira, 13 de agosto, TERNURA


  
TERNURA

Vinicius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentado

Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar

[extático da aurora. 

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A delicadeza de Drummond, no FIT

Drummond
Ponto de Partida - Brasil/MG


Drama poético
Duração: 1h20
Classificação: Livre
Direção: Regina Bertola

Sinopse
O espetáculo mescla delicadeza, harmonia e lirismo, envolvidos pelos poemas do autor; pelos atores, suas vozes e movimentos, e pelo figurino de época. Segue uma trajetória dialética, que vai da família, da cidade, da infância, ao amor, às questões existenciais, à idade matura, à velhice, à morte, sem que esta trajetória se estabeleça com clareza didática.

Ponto de Partida
Com 26 anos de existência e sede em Barbacena, o Ponto de Partida é uma companhia de repertório independente, com 20 profissionais em exercício permanente e 26 espetáculos montados. Trabalha com um processo de formação, tanto na busca de profissionais para seu próprio aperfeiçoamento, como dividindo com outros grupos processos de produção e criação que já sistematizou. Em Paris, onde representou o Brasil nos 50 anos da Unesco, apresentou-se, anos depois, no Théâtre des Champs-Élysées, com os Meninos de Araçuaí e Milton Nascimento.


APRESENTAÇÃO:

  • 14/08 | sábado • 21h30
    Teatro Oi Futuro Klauss Vianna
  • 15/08 | domingo • 11h
    Teatro Oi Futuro Klauss Vianna
  • Simplesmente Eu, Clarice Lispector



    Simplesmente Eu, Clarice Lispector

    Beth Goulart - Brasil

    Espetáculo poema, Duração: 01:00, Classificação: 12 anos
    Direção: Beth Goulart
    Elenco: Beth Goulart
    Visto por mais de 60 mil pessoas, o espetáculo "Simplesmente eu, Clarice Lispector" – adaptado, interpretado e dirigido por Beth Goulart, com supervisão de Amir Hadad – chega à capital mineira com dois prêmios: Prêmio Shell 2009 de melhor atriz e Prêmio APTR 2010 (Associação de Produtores do Rio de Janeiro) de melhor atriz protagonista.

    A peça mostra a trajetória dessa mulher em direção ao entendimento do amor, de seu universo, suas dúvidas e contradições. Uma autora e seus personagens dialogando sobre a vida e morte, criação, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, entrega, inspiração, aceitação e entendimento. O texto é extraído de depoimentos, entrevistas, correspondências de Clarice e trechos das obras "Perto do Coração Selvagem", "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" e dos contos "Amor" e "Perdoando Deus". O espetáculo tem como um de seus maiores objetivos fomentar a leitura.

    APRESENTAÇÃO:

    # 15/08
    domingo • 16h

    Teatro Sesiminas

    # 15/08
    domingo • 18h30
     

    terça-feira, 10 de agosto de 2010

    Consciência cósmica



    Já não preciso de rir.
    Os dedos longos do medo
    largaram minha fronte.
    E as vagas do sofrimento me arrastaram
    para o centro do remoinho da grande força,
    que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

    Já não tenho medo de escalar os cimos
    onde o ar limpo e fino pesa para fora,
    e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
    e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

    Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
    a dança das espadas de todos os momentos.
    e deveria rir, se me restasse o riso,
    das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
    dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...

    ROSA, João Guimarães. Magma. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, p. 146.
     
    Foto: Kátia Araújo, Cordisburgo/MG, 2010

    ***

    O livro Magma ficou por 60 anos sem ser publicado e ganhou o status de lenda. Conhecido por poucos, inacessível a muitos, tinha a existência clandestina. Apesar de ter ganhado, em 1936, o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, o livro sempre foi considerado uma obra menor pelo autor. Durante sua vida, Guimarães Rosa não demonstrou qualquer interesse em publicá-lo, chegando a dizer em entrevista: "[...] escrevi um livro não muito pequeno de poemas, que até foi elogiado. [Depois] passaram-se quase dez anos, até eu poder me dedicar novamente à literatura. E revisando meus exercícios líricos, não os achei totalmente maus, mas tampouco muito convincentes". Assim, só muitos anos após a morte de seu autor, em 1997, é que Magma veio a público.

    Segue o discurso proferido por Guimarães Rosa em agradecimento ao prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras, ao livro de poesia Magma.

    "O poeta não cita: canta. Não se traça programas, porque a sua estrada não tem marcos nem destino. Se repete, são idéias e imagens que volvem à tona por poder próprio, pois que entre elas há também uma sobrevivência do mais apto. Não se aliena, como um lunático, das agitações coletivas e contemporâneas, porque arte e vida são planos não superpostos mas interpenetrados, com o ar entranhado nas massas de água, indispensável ao peixe — neste caso ao homem, que vive a vida e que respira arte. Mas tal contribuição para o meio humano será a de um órgão para um organismo: instintiva, sem a consciência de uma intenção, automática, discreta e subterrânea.

    Com um fosso fundo ao redor de sua turris ebúrnea, deixa a outros o trabalho de verificarem de quem recebeu informações ou influências e a quem poderá ou não influenciar.

    E o incontentamento é o seu clima, porque o artista não passa de um místico retardado, sempre a meia jornada. Falta-lhe o repouso do sétimo dia. Não tem o direito de se voltar para o já-feito, ainda que mais nada tenha por fazer.

    A satisfação proporcionada pela obra de arte àquele que a revela é dolorosamente efêmera: relampeja, fugaz, nos momentos de febre inspiradora, quando ele tateia formas novas para exteriorização do seu magma íntimo, do seu mundo interior. Uma tortura crescente, o intervalo de um rapto e um quase arrependimento. Pinta a sua tela, cega-se para ela e passa adiante. Se a surdes de Beethoven tivesse lhe trazido a infecundidade, seria um símbolo. Obra escrita — obra já lida --- obra repudiada: trabalhar em comeias opacas e largar o enxame ao seu destino, mera ventura de brisas e de asas.

    Tudo isto aqui vem tão somente para exaltar a importância que reconheço ao estimulo que me outorgastes. Grande, inesquecível incentivo. O Magma, aqui dentro, reagiu, tomou vida própria, individualizou-se, libertou-se do seu desamor e se fez criatura autônoma, com quem talvez eu já não esteja muito de acordo ,mas a quem a vossa consagração me força a respeitar. Sou-lhe grato, principalmente, pelo privilégio que me obteve de poder --- sem demasiadas ilusões, mas reverente --- levantar a voz neste recinto, como um menino que depõe o seu brinquedo na superfície translúcida de uma água, para a qual a serenidade não é a estagnação, e cujo brilho da face viva nada rouba à projeção poderosa da profundidade (...)."
     
    (Revista da Academia Brasileira de Letras, anais de 1937, ano 29, vol 53, p. 261-263)
     

    sexta-feira, 6 de agosto de 2010

    ULTIMATUM



    Mandado de despejos aos mandarins do mundo
    Fora tu, reles esnobe plebeu
    E fora tu, imperialista das sucatas
    Charlatão da sinceridade
    E tu da juba socialista, e tu qualquer outro
    Ultimatum a todos eles
    E a todos que sejam como eles
    Todos.

    Monte de tijolos com pretensões a casa
    Inútil luxo, megalomania triunfante
    E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
    Que nem te queria descobrir.
     
    Ultimatum uma voz que confundis o humano com o popular
    Que confundis tudo
    Vós, anarquistas deveras sinceros
    Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
    Para quererem deixar de trabalhar
    Sim, todos vós que representais o mundo

    Homens altos
    Passai por baixo do meu desprezo
    Passai aristocratas de tanga de ouro
    Passai Frouxos
    Passai radicais do pouco
    Quem acredita neles?
    Mandem tudo isso para casa
    Descascar batatas simbólicas
    Fechem-me isso tudo a chave
    E deitem a chave fora
    Sufoco de ter só isso a minha volta

    Deixem-me respirar
    Abram todas as janelas
    Abram mais janelas
    Do que todas as janelas que há no mundo.

    Nenhuma idéia grande
    Nenhuma corrente política
    Que soe a uma idéia grão
    E o mundo quer a inteligência nova
    Sensibilidade nova
    O mundo tem sede de que se crie
    Porque aí está a apodrecer a vida
    Quando muito é estrume para o futuro
    O que aí está não pode durar
    Porque não é nada.

    Eu da raça dos navegadores
    Afirmo que não pode durar
    Eu da raça dos descobridores
    Desprezo o que seja menos
    Que descobrir um mundo novo
    Proclamo isso bem alto
    Braços erguidos
    Fitando o Atlântico
    E saudando abstratamente o infinito...

    Álvaro de Campos, 1917
    (Edição de Maria Bethânia, declamado no Show Dentro Do Mar Tem Rio)

    Para assistir, clique aqui http://www.youtube.com/watch?v=Ja9Vercrab0

    terça-feira, 3 de agosto de 2010

    A vida segundo Charles Chaplin



    A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando... E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?

    Charles Chaplin