"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados. - E eu não sei? Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados." Afonso Romano de Sant'Anna
"... acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante." Cecília Meireles
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quarta-feira, 16 de março de 2011
A bunda que engraçada
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai pela frente do corpo.
A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio.
Anda por si na cadência mimosa,
no milagre de ser duas em uma,
plenamente.
A bunda se diverte por conta própria. E ama.
Na cama agita-se.
Montanhas avolumam-se, descem.
Ondas batendo numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.
Carlos Drummond de Andrade
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2 comentários:
Não conhecia o texto, ri muito!
Obrigada por deixar o finalzinho do meu dia cheio de descontração!
Olá, Danielle! Que bom que vc gostou do texto! Eu sou suspeita pra falar, pq o Drummond é um dos meus poetas prediletos. Eu acho fantástico como ele conseguiu tratar dos temas mais complexos aos mais cotidianos, sem perder a leveza, cair na trivialidade e/ou no pessimismo. Além disso, em seus escritos nunca faltou uma inteligente pitadinha de ironia. Um agraço!
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