"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados. - E eu não sei? Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados." Afonso Romano de Sant'Anna

"... acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante." Cecília Meireles

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

A VERDADE

(Carlos Drummond de Andrade)


A porta da verdade estava aberta,

Mas só deixava passar

Meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,

Porque a meia pessoa que entrava

Só trazia o perfil de meia verdade,

E a sua segunda metade

Voltava igualmente com meios perfis

E os meios perfis não coincidiam verdade...

Arrebentaram a porta.

Derrubaram a porta,

Chegaram ao lugar luminoso

Onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades

Diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual

a metade mais bela.

Nenhuma das duas era totalmente bela

E carecia optar.

Cada um optou conforme

Seu capricho,

sua ilusão,

sua miopia.


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