As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Carlos Drummond de Andrade
In Corpo, 1984.
"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados. - E eu não sei? Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados." Afonso Romano de Sant'Anna
"... acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante." Cecília Meireles
2 comentários:
Não conhecia esse poema de Drummond. É lindo!
Beijos!
Não conhecia, que lindo! E que sensação mais familiar!
Prezada Tereza, pelos meus últimos posts, se você acaso os leu, deve ter percebido que estive aí na sua terra, BH, ainda que correndo e muito atribulada pelo cansaço. Fui entregar os exemplares da minha tese ao pós-lit. Minha defesa está marcada para o dia 24 de fevereiro, naquele auditório do térreo da faculdade de letras da ufmg, e aproveito o ensejo para convidá-la, onde certamente terá a sensação de "festa estranha com gente esquisita", mas muito bacana.
Um abraço.
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