Buquinemos, amiga, neste sebo.
A vela, ao se apagar, é sebo apenas,
e quero a meia-luz. Amo as serenas
angras do mar dos livros, onde bebo.
— Álcool mais absoluto — alheias penas
— Álcool mais absoluto — alheias penas
consoladas na estrofe, e calmo, e gêbo,
tiro da baixa estante sete avenas
em sete obras que pago e que recebo.
Amiga, buquinemos, pois é morta
Inês de antigos sonhos, e conforta
Amiga, buquinemos, pois é morta
Inês de antigos sonhos, e conforta
no tempo de papel tramar de novo.
Nosso papel, velino, e nosso povo
Nosso papel, velino, e nosso povo
é Lucrécio e Villon, velhos autores,
aos novos poetas muito superiores.
Os sebos também encantaram Carlos Drummond de Andrade. Os versos desse soneto, de autoria do literato mineiro, revelam bem o seu amor pela poesia, poeta e livros velhos.
Buquinar: verbo intransitivo que significa “buscar e comprar livros usados em livrarias, bancas, sebos, alfarrabistas”. Palavra de origem francesa, presente na língua portuguesa desde o século XX, cuja etimologia está associada a bouquiner, bouquin – “livro antigo, pequeno livro”, conforme definição dada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
Essa pequena grande composição poética é um tributo aos garimpeiros, mestres na arte da buquinagem – ou garimpagem –, sujeitos que encontram antigos tesouros onde a maioria das pessoas vê pouca ou nenhuma importância.
Sebo, casa de alfarrábio e caga-sebo são alguns dos nomes dados às livrarias que comercializam livros usados. Há quem prefira “casa de alfarrábio” por considerar que a expressão “sebo“ é depreciativa. Preferem ser chamados alfarrabistas a sebistas, já que sebo é sujeita, porcaria.
Há outros, porém, como o falecido Amadeu Rossi Cocco, ou melhor, Seu Amadeu – fundador do sebo com mais tempo de atividade no mercado livreiro de Belo Horizonte (desde 1948) –, que são capazes de perceber a poesia da expressão “sebo” tal como Drummond, que convidou a amiga para, juntos, buquinarem à luz de velas. Seu Amadeu também gostava da meia luz:
“Tenho saudade é do tempo em que sebo era sebo mesmo, quando não havia luz elétrica e as pessoas usavam aquelas velas grandes para as leituras noturnas. De tanto o povo ver pingando aqueles resíduos das velas, pôs o nome de sebo.”
Seu Amadeu faleceu em 9 de abril de 2009, aos 92 anos. A próxima postagem será sobre este que é um dos mais conhecidos ícones de Belo Horizonte.
Buquinar: verbo intransitivo que significa “buscar e comprar livros usados em livrarias, bancas, sebos, alfarrabistas”. Palavra de origem francesa, presente na língua portuguesa desde o século XX, cuja etimologia está associada a bouquiner, bouquin – “livro antigo, pequeno livro”, conforme definição dada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
Essa pequena grande composição poética é um tributo aos garimpeiros, mestres na arte da buquinagem – ou garimpagem –, sujeitos que encontram antigos tesouros onde a maioria das pessoas vê pouca ou nenhuma importância.
Sebo, casa de alfarrábio e caga-sebo são alguns dos nomes dados às livrarias que comercializam livros usados. Há quem prefira “casa de alfarrábio” por considerar que a expressão “sebo“ é depreciativa. Preferem ser chamados alfarrabistas a sebistas, já que sebo é sujeita, porcaria.
Há outros, porém, como o falecido Amadeu Rossi Cocco, ou melhor, Seu Amadeu – fundador do sebo com mais tempo de atividade no mercado livreiro de Belo Horizonte (desde 1948) –, que são capazes de perceber a poesia da expressão “sebo” tal como Drummond, que convidou a amiga para, juntos, buquinarem à luz de velas. Seu Amadeu também gostava da meia luz:
“Tenho saudade é do tempo em que sebo era sebo mesmo, quando não havia luz elétrica e as pessoas usavam aquelas velas grandes para as leituras noturnas. De tanto o povo ver pingando aqueles resíduos das velas, pôs o nome de sebo.”
Seu Amadeu faleceu em 9 de abril de 2009, aos 92 anos. A próxima postagem será sobre este que é um dos mais conhecidos ícones de Belo Horizonte.
FONTES:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1992, p. 977.
DELGADO, Márcia Cristina Delgado. Cartografia sentimental de sebos e livros. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
4 comentários:
Lindo soneto...
Tudo a luz de velas é lindo...rs
Bjs
Mila
Lindo o poema e a homenagem que Drummond presta a esta forma de "leitura antiga". Menciona o Villon, que por acaso era volta e meia citado pelo Oséias, proprietário da Crisálida (e editor), e que nutria um gosto todo especial por essa poesia antiga. Os livros da Crisálida estão entre os mais bem acondicionados que já vi em um sebo, mas os preços...
Abraços!
E olha que ganho: foi através desse poema que Drummond me apresentou o Villon. Até então sequer tinha ouvido falar sobre a figura, cuja história é interessantíssima, por sinal. Legal isso, né?!
Sim, a história dele é fantástica, e o Candido tem um texto lindo sobre ele, só não me lembro agora onde está...
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