A mineira Clara Francisca Gonçalves – ou Clara Nunes – desde a infância sonhava ser cantora, e das famosas; como Dalva de Oliveira ou Elizeth Cardoso. Nascida em 1942, numa família pobre, no município de Cedro – hoje Caetanópolis, subdistrito de Paraopeba – a caçula de sete irmãos teve como primeira referência musical o próprio pai, operário da fábrica de tecidos da região, era também congadeiro, violeiro e organizador da Folia de Reis.
Clara Nunes perdeu os pais ainda criança, quando passou a viver sob os cuidados do casal de irmãos mais velhos. Ao 15 anos, nova tragédia marca a vida da jovem: o irmão mais velho, em defesa da honra da irmã, mata o namorado desta, que estaria espalhando infâmias sobre Clara, pela cidade.
Mal vista pela sociedade, com o irmão foragido da polícia, ela vai morar em Belo Horizonte, na companhia de uma tia. Na capital, passa a integrar o coral de uma igreja, participa do concurso nacional A voz de Ouro ABC, ficando em terceiro lugar. A partir daí, as oportunidades vão surgindo e a carreira de Clara Nunes começa a deslanchar, o que a leva a mudar-se para o Rio de Janeiro.
Consagrada como uma cantora genuinamente brasileira, Clara Nunes recupera as raízes tradicionais da música por meio do samba e das vertentes afros, nas quais quanto mais se aprofundava se enveredava pelos caminhos da religião.
Na mesma época, Vinícius de Moraes descobre o candomblé e passa a se considerar “o branco mais preto do Brasil”, o que, inevitavelmente, propiciou um abençoado encontro entre esses artistas, que contou com a participação de Toquinho, no show Poeta, Moça e Violão.
Numa fase posterior, mais madura, a música cantada por Clara Nunes já procurava retratar um pouco das três raças que formavam o povo brasileiro. A preservação da memória musical e a dignidade que poderia ser conferida ao povo por meio da música foram ficando cada vez mais fortes em suas escolhas. Nessa época, Clara participou, também, de diversos eventos com fundo político.
A figura emblemática de Clara Nunes marcou a história da música popular brasileira como a mulher que soube celebrar, através do canto, a eclética identidade de um povo.
Pra ilustrar, nada melhor que um presente feito pelo lindo do Chico especialmente para a linda da Clara: a canção Morena de Angola.
"(...)
Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
Será que ela tá na cozinha guisando a galinha à cabidela
Será que esqueceu da galinha e ficou batucando na panela
Será que no meio da mata, na moita, a morena inda chocalha
Será que ela não fica afoita pra dançar na chama da batalha.
(...)"
FONTE:
Revista Vida Simples, edição n° 63, de fevereiro de 2008, pp. 42-47.
2 comentários:
Ei Maria de Holanda! Que ótima lembrança da "morena de Angola", adorei conhecer mais detalhes da vida dela. Mantenha o nível!!! Bj. Liliann
Holanda, vim te conhecer e dei de cara com esse post sobre uma cantora que adoro. Obrigado por compartilhar e nos vemos pela blogosfera.
Um abraço moça.
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