Bom, fechando esta semana de comemorações - se é que há data pra começar ou terminar de comemorar o que quer que seja - eu não poderia deixar de transmitir o recado que o poetinha me pediu.
Vinícius, como todos já sabem, aquele que escurecia pela manhã e à noite ardia; cidadão do mundo, venerava as mulheres (Todas!), amava os amigos, relacionava-se intimamente com o uísque, poeta irrepreensível, letrista, crítico eventual de cinema, não abria mão de sua banheira, boêmio incansável, divertido, enfim... O que quase ninguém sabe é da nossa amizade! Desde o dia em que nos conhecemos sentimos instantaneamente uma pueril afinidade, tão límpida, doce; ele me disse palavras tão graciosas, e eu pra ele... Não me lembro muito bem quando isso tudo aconteceu, só sinto que foi um encontro pra nunca mais nos desencontrarmos. Nossa necessidade de sermos amigos foi tanta que transcendeu tempo e espaço. Assim, é fato irrelevante sua alma ter subido ao céu no ano de 1980 e a minha descido à Terra em 1982. Adoro ouvi-lo, ele me entende, me faz rir, me inspira, bebemos juntos, ouvimos música, e tudo o mais a que uma amizade tem direito. Quem não acredita?
Voltando ao recado:
"(...) É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse danos; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas."
Trecho de O amor por entre o verde. MORAES, Vinicius de. Para viver um grande amor. Rio de Janeiro: Coleção Folha de São Paulo, 2008. P. 48-50.
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