Cecília Meireles em Lisboa. Desenho de Fernando Correia Dias. |
Lua adversa
Tenho fases, como a lua,
fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Canção do Sonho Acabado
Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude.
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...
Cecília Meireles
3 comentários:
Cecília linda!
Faz tempo que não visito a poesia de Cecília Meireles - deveres de ofício me empurram para outros autores. De forma que reencontrar este poema, "Lua adversa", foi muito bacana! O outro não me recordo de ter lido antes, e é de fato belíssimo.
Abraços.
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