"Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados. - E eu não sei? Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados." Afonso Romano de Sant'Anna

"... acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante." Cecília Meireles

Pesquisar este blog

quinta-feira, 11 de março de 2010


... El nivel de civilización a que han llegado diversas sociedades humanas está en proporción a la independencia que gozan las mujeres...”, Flora Tristán.

Flora Tristán nasceu em Paris, em 7 de abril de 1803, filha de um coronel Peruano oriundo de Arequipa, Mariano Tristán y Moscoso e de uma plebéia francesa chamada Teresa Laisney. Aos dezessete anos, numa época de pobreza enfrentada pela família e devido a pressões maternas, Flora se casa com o dono da oficina de litografia onde trabalhava, André Chazal, com quem teve dois filhos e uma filha, Aline, que viria a ser a mãe do famoso pintor francês, Paul Gauguin.

A história de Flora Tristán é marcada por atitudes audazes, revolucionárias, por sua busca incansável em prol da liberdade feminina e sua igualdade perante o homem. Pouco conhecidas no Brasil, suas idéias e exemplos foram valiosos estímulos para o despontar do feminismo moderno.

A primeira grande ousadia de Flora foi fugir da casa do marido, motivada pelo sofrimento cotidiano impingido por Chazal, com quem matinha uma relação marcada por agressões, estupros, privações, dentre outras humilhações e limitações. A partir disso, ela viaja por vários países à procura de trabalho, época em que vê reforçada sua condição de excluída. Decide, então, viajar para o Peru, a fim de reclamar a herança paterna a que acredita ter direito.

Após oito meses de estadia em terras latinas, Flora retorna para a Europa, trazendo consigo a sensação de fracasso, que por ela foi assim manifestado: “Vine a buscar un lugar legítimo en el seno de una familia y de una nación... pero trás ocho meses de ser tratada como una extraña en la casa de mis tíos era evidente que no había ganado ningún estatus dentro de mi família paterna...” Sua obra Peregrinaciones de una Paria é fruto das experiências vividas nesse período. Em 1835, publica seu primeiro folheto, dedicado à situação das mulheres estrangeiras pobres na França; em 1837, sai o segundo, em prol do divórcio.

Flora nunca deixou de ser perseguida pelo marido, de quem se livrou apenas quando preso por tentar matá-la. Flora parte também para uma acirrada luta na justiça pela custódia dos filhos, a qual levaria 12 anos.

Mesmo vivendo em situação duplamente ilegítima – concebida fora do matrimônio e separada do marido num país que não reconhecia o divórcio – Flora permaneceu engajada em seu compromisso ativo com as lutas sociais da época: primeiramente, pela emancipação da mulher e da classe operária, estendo, a posteriori, sua luta também contra a pena de morte, o obscurantismo religioso e a escravidão.

Flora Tristán morre em 1844, pouco depois de publicar as duas obras que marcaram sua maturidade intelectual e política: A União Operária, em 1843; e A Emancipação da Mulher, livro inédito até 1846. Foi a primeira a proclamar “¡Trabajadores del mundo, uníos”. Sua morte provoca muita emoção na região da Gironda - Gironde em francês, departamento localizado no sudoeste do país, na região da Aquitânia - e seu sepultamento é seguido por intelectuais e por uma multidão de operários.


FONTES:
LLOSA, Mario Vargas. O Paraíso na Outra Esquina - novela histórica sobre Paul Gauguin y Flora Tristán. 2003.
http://www.flora.org.pe/ - Site peruano que difunde e promove os direitos da mulher.

Nenhum comentário: